domingo, 30 de abril de 2017

Cineac Trianon

Meu avô vendeu seu sítio. Fiquei arrasada. Já estava a venda desde que eu me entendo por gente, mas de alguma forma não acreditava que ele teria realmente coragem de fazer isso. Não conheci os atuais donos da propriedade, mas espero que seja também uma família e que não mudem nada. Nem um detalhe da decoração nem da mobília. E que aproveitem muito, como eu aproveitei. Da última vez que fui lá os empregados já haviam sido despedidos, só tinha restado o caseiro e o segurança. 
Sentirei saudades de todos os cafés da manhãs que mais pareciam de hotel, daquele barulhinho tão especial do rio e também dos mergulhos nele. Daquele clima de montanha e daquela fumaça que saia de minha boca a cada palavra, dos dogs alemães que eu vi crescer, de todos os churrascos e todas as pizzas no pavilhão, da quadra de tênis e de toda travessura que aprontei com meus primos ali, cada caça ao tesouro, cada pique esconde,cada poção que fizemos misturando cosméticos do banheiro alheio, aquela pontezinha da piscina, a cada livro que li naquele friozinho com barulhinho da água do rio correndo e a cada miojo. Fico as vezes pensando como deve ter sido dolorido para a mãe do Cazuza quando vendeu essa casa para nós. Gostaria de procura-la hoje em dia e avisar que fiz bom uso dela, conta-la de dias antes de subir a serra até lá da minha empolgação para deixar essa cidade grande e entrar em contato com a natureza, de todas as frutas que comi direto do pé e de toda calça que ficou manchada por uma pirambera que havia atrás do celeiro. Tomara que aquele lugar alegre os dias de outra criança agora. Faça bom uso como nós fizemos, queridos anônimos novos moradores. E obrigada por tudo Cineac Trianon. 
15 de dezembro de 2014